SEXO: O QUE MAIS DESEJO?
“O chato de morrer é que eu nunca mais vou poder ouvir Cole Porter” (Paulo Francis dixit)
“Preciso de um namorado”, diz minha amiga Mabel, de 74 anos. “Eu também” – eu lhe respondo aqui do alto dos meus 75. Mabel só quer do namorado companheirismo, carinho e amizade. Já eu… “ah, Mabel, eu quero é sexo!” – eu lhe minto. Pois o sexo deixou de ser atraente para mim há pelo menos seis anos. Claro, eu ainda o pratico, mas a verdade é que, a não ser em raríssimas ocasiões, eu o faço de modo, digamos assim, mecânico.
Outro amigo meu, na faixa dos 50 anos e heterossexual convicto, diz amargamente sobre o órgão sexual feminino que “quem já viu uma, viu todas”. Mas claro, não é ao órgão sexual feminino que ele está se referindo, nem mesmo às mulheres, mas às relações entre elas e os homens que, como qualquer relação a longo prazo, sempre se desgastam. Quanto a mim, na minha preferência pessoal, não chego a esse extremo.
(Ah, sim, falando em órgão sexual, a diversidade do masculino é fato cientificamente comprovado. Segundo os especialistas na matéria, tal como as impressões digitais de cada indivíduo, não existem dois que sejam iguais – as diferenças são sempre notáveis não só à visão como ao tato.)
Sobre o desejo da Mabel de ter um amor platônico, acho que ela mente ou, pelo menos disfarça o desejo fortalecendo o viés romântico. No meu caso, eu também minto. Por mais que me canse, o ato sexual ainda faz parte da minha lista de consumo. Claro, quase sempre saio dele – do ato, quero dizer – decepcionado. “Ai, como tudo isso é repetitivo e chato” – eu me digo, nas muitas vezes em que a coisa me deixa um travo amargo. Mas, quem sabe, talvez, na próxima esquina, me surja pela frente o último e mais arrebatador príncipe encantado? E é nesse ponto do nosso pensamento que se chega disposto a começar tudo de novo.
Além de sexo, Mabel me pergunta do que eu preciso… E eu lhe respondo: preciso da imortalidade, e ela tem a ver com sexo… Assim como tem a ver com sexo outra coisa da qual necessito, que é o Poder e seus irmãos gêmeos, Glória e Reconhecimento. Aos 75 anos, como se fosse um adolescente começando a vida, tudo que eu almejo é o sucesso. Por ele faço qualquer coisa, inclusive acordar todos os dias às 5h30m e ficar diante do computador nas próximas dez horas, tudo isso para escrever aquela que deve ser (tem que ser, caramba!) a minha melhor novela.
Será mesmo? Como diria Lara Romero, personagem da minha série “Cinquentinha”: quem viver, me verá! Estou aqui para isso mesmo.
De outras coisas também preciso. Voltar ao Recife e ver mais uma vez meu irmão Agápito… Jantar de novo no Mugarivtz lá em San Sebastian… Rever os quadros de Van Gogh no Louvre e, a cada um deles, ficar ainda mais louco… Ouvir Cole Porter desde agora até o último minuto antes da minha ida para o mais além de todos… Ler pela décima vez Ana Karenina e ver pela enésima Cidadão Kane, Rastros de Ódio, Um Corpo que Cai e sim, sim, sim, Blade Runner (o primeiro)… Conversar com meus amigos todos…
E escrever. Escrever sempre, muito! Fazer o que estou fazendo agora, sabendo que vocês vão me ler daqui a pouco e pensar: “como ele escreve bem!”, ou então: “que cara mais chato”! Enfim, do que eu mais preciso: provar que continuo aqui e, portanto, ainda estou vivo.
Você já é grande Aguinaldo Silva. Você é o melhor! Meu roteirista preferido.
Ah, Agnaldo, relaxa, nunca é demais pra se amar. Quanto aos príncipes encantados, com a crise que anda por aí a gente encontra um em cada esquina. E todos juram amor eterno em troca de alguns trocados. É a vida, né?
Até parece… A terceira idade é apenas um degrau em direção à quarta… Que em geral se vive lá em cima na eternidade. Príncipe Encantado aos 75, nem pensar, meu bem.
Aguinaldo, você é lindo e talentoso, sempre vai achar alguém que lhe queira fazer feliz. Eu, por exemplo, me candidato…
Com a crise que anda por aí o que não falta é príncipe encantado. A gente encontra um em cada esquina, e todos juram amor eterno em troca de uns mil réis.
Fiquei chocada. Por que revelar sua intimidade dessa maneira? E essa história do órgão sexual masculino servir como impressão digital… É mesmo verdade? Conheci poucos e nunca reparei se eram diferentes um do outro, só se eram grandes ou pequenos. Enfim… Você entende disso mais do que eu.
Lembra de mim, Guigui? Seria capaz de me reconhecer pela impressão digital?
É beijinho, beijinho e pau, pau …
Na minha opinião o melhor autor de novelas do Brasil. Grande Aguinaldo já imortalizado em suas obras e em seus personagens inesquecíveis no imaginário do brasileiro.
O cansaço vence o prazer, sei como é.
Concordo. Não sei porque sempre associo aos dedos da mão, dai s correlação com digitais. Se não gosto da mão, melhor nem começar. E se eu fosse famosa e rica, eu não iria querer ninguém que soubesse que sou. Iria pegar um desconhecido em Portugal ou Paris, que me quisesse pelo que sou. Bjkas
Salve Agnaldo, como é bom ler algo tão verdadeira e corajoso. Te admiro muito. Quanto ao órgão sexual masculino, sempre digo que é uma Caixa de Pandora, é sempre uma surpresa (agradável ou não)
Obrigado, por mais uma escrita aqui nesse canal. Somo seus seguidores e precisamos ler suas escritas.
Você é felomenal….