NOVELA DO FUTURO: COMO SERÁ?
Daqui a 50 anos ainda haverá novelas de televisão, sim… in my opinion. O problema é: neste futuro ainda distante, como ela serão?
Quando a Rede Globo de Televisão completou 50 anos a mídia me fez muitas perguntas sobre a emissora à qual presto serviços como roteirista/novelista desde 1978. Mas respondi a apenas três, formuladas por um jornal paulista. Minhas respostas não foram publicadas pelo jornal. Mas como desde então não mudei de opinião sobre a minha empregadora eu as publico aqui junto com as perguntas:
1) Do que você sente falta na Globo em relação ao passado? R. Nunca penso no que foi bom ou ruim no passado. Para mim só o que vale é o agora e o futuro. 2) Em que a Globo é melhor e pior hoje? R. Nestes 50 anos a Globo não fez outra coisa senão crescer e se aprimorar. Ela é melhor hoje do que foi ontem e certamente será melhor daqui a 50 anos. 3) Quais são as perspectivas para os próximos 50 anos e que desafios a Globo enfrentará? R. Não posso falar de um futuro no qual, mesmo contra a minha vontade, não estarei presente. Mas sei que, daqui a 50 anos, ao contrário de mim a Globo estará presente na vida dos brasileiros.
Como veem, diante das perguntas nas quais minha abençoada paranoia viu quartas e quintas intenções, tratei, nas respostas, de tirar o meu da reta… Ou teria que ler, pela enésima vez nos sites e blogues de 60 centavos aquela frase que para mim já se tornou trivial: “Aguinaldo Silva alfineta…” E dessa vez eu estaria alfinetando logo quem? A empresa que há 38 anos suporta meus achaques e insiste em me dar abrigo embora às vezes eu não o mereça.
Mas, apesar das minhas respostas, digamos assim, anódinas, o fato é que essas perguntas me deram o que pensar. Não sobre a Globo em si, que sobre o futuro desta eu estou tranquilo – ela estará no lugar de sempre até que a água acabe, a luz do sol se apague e a infindável tempestade de pó que nos cobrirá a todos pare de soprar. Mas sobre a própria televisão, esse veículo que, talvez mais no Brasil que em outros países, se tornou tão essencial e tão íntimo às nossas vidas.
Como será a televisão não daqui a 50 anos, mas nos próximos dez? Que mudanças vão ocorrer nela não só do ponto de vista “físico”, mas, também de conteúdo? É cada vez maior o número de “especialistas” que apregoam o fim da tevê como nós a conhecemos, e é possível que eles estejam certos. Eu mesmo, se conseguir viver mais 50 anos, não acho que estarei escrevendo em 2065 o mesmo tipo de novelas que escrevo hoje, não… O melodrama, sim, este sobreviverá, porque suas dez ou doze regras fazem um apanhado perfeito das assim chamadas emoções humanas, e estas continuarão as mesmas através dos séculos. Mas as novelas, ou o modo de fazer ficção como hoje o conhecemos, daqui a 50 anos, como serão?
Esta é uma pergunta que o tal jornal paulista não me fez, mas sobre a qual agora me debruço. Dia desses, numa roda de especialistas em teledramaturgia, alguém disse que “Império” foi a última novela a ultrapassar a barreira dos 200 capítulos – foram 203 no total -, já que, nos dias atuais (e menos ainda nos dias futuros) as pessoas não dispõem mais de tempo nem disposição para ser fiéis a um produto televisivo que se arrasta por quase meio ano.
Mas esta é uma mudança “física”. As telenovelas serão mais curtas, mais dinâmicas, com um número menor de personagens e de tramas. Outra mudança “física” é que elas terão que sair dos estúdios para ir mais às ruas – e, graças à vontade e ao esforço do diretor Rogério Gomes e sua equipe, nisso “Império” foi uma pioneira.
Mas, no dia em que Mamãe – quer dizer, a Rede Globo fizer 100 anos, como serão as telenovelas? Pois é claro que elas continuarão existindo… Ou você, que me leu até agora e as acompanha diariamente tem alguma dúvida? Quanto tempo ficarão no ar, do que falarão, continuarão a ter como sua matéria prima a ficção desvairada, ou se tornarão veículos para propaganda, defesa e difusão de causas? Esta é a pergunta sobre a qual nós, que as escrevemos e que somos os verdadeiros especialistas no assunto, temos que começar a responder já a partir de agora: será que, daqui a 50 anos, ainda haverá lugar para personagens fulcrais como o nosso infelizmente morto comendador ou a sempre vivíssima Viuva Porcina? Aguardem os próximos capítulos.
Império foi simplesmente a sua melhor! E espero que nos próximos anos as novelas continuem falando sobre assuntos polêmicos ou nem tão polêmicos assim, mas que não sejam tão apelativas como a que está no ar às 21 horas da noite.
Ih, Filipe do Vale… Agora você me pegou. Sabe que eu não sei?
Engraçadinho…
E me tire mais uma dúvida, mas dessa vez me responda com sinceridade: você gostou da versão de Saramandaia feita pelo seu amigo Ricardo Linhares?
Já faz tempo que quero, mas não consigo por falta de condições. Mas eu te peço, você poderia comprar pra mim aquela coleção de DVDs Luz, Câmera, 50 anos na loja.globo?
Filipe Alves do Vale, quereeeeedo… Você é um pândego.
Me responde a esta pergunta, Seu Aguinaldo: por que você segue apenas duas pessoas no Twitter, e uma delas nem te segue de volta?
Interessante tudo o que você comenta.
Aguardemos pela próximas novidades e desejar o melhor aos novelistas/roteiristas.
Quem viver, verá!!!
Interessante essa questão colocada e debate por você mestre Aguinaldo . Minha humilde opinião é a de que se o mundo sobreviver a mais 50 anos e nós consequentemente também, Teremos grandes novelas nas grades de programação das emissoras. Agora como serão? Quantas vezes irão ao ar por semana? Quais os horários? Todos esses questionamentos são os menos preocupantes. Para mim, o que pode destruir as telenovelas e a televisão em geral é o “POLITICAMENTE CORRETO” , esse sim, o maior dos predadores do entretenimento .
Ps:. Só para constatar, daqui a 50 anos, depois de ter atuado e dirigido em muitos trabalhos, quero estar tranquilamente sentando na minha poltrona em algum escritório a dedilhar no teclado digital que não fará mais esse barulho de “tec, tec”, as cenas dos próximos capítulos de alguma trama minha, provavelmente das seis. E irei lembrar de você. E irei chorar. E irei sorrir e seguir em frente. E irei ensinar como me ensinou. E irei buscar esse comentário nesse endereço virtual. Dia 07 de maio de 2068. Aqueles 50 anos do dia em que te parei no meio da rua .
Como sempre sábios nas escritas.
Aguinaldo, eu estava pensando sobre esse texto que você escreveu e creio que em menos de 20 anos as novelas já terão sofrido uma mudança drástica em seus formatos. As novas gerações em sua maioria não acompanham novelas, mas fazem maratona com todas as séries novas que o Netflix lança por exemplo. Hoje em dia as pessoas não têm tempo de ficar 1h por dia na frente da TV, ou mesmo on demand acompanhando capítulos inteiros, densos e inclusive com cenas que muitas vezes não acrescentam a história como um todo. O que eu imagino pode ser capítulos menores e talvez não diários.. Não sei, acho que a mudança está mais perto do que imaginamos. Bom texto, abraços.
Daqui há 50 anos ainda vão lembrar de alguns personagens imortais, tais como Sinhozinho, Porcina, Odete Roitman, etc. Já outros, mega secundários e cada vez mais descartáveis na atual dramaturgia, nem na pesquisa do Google aparecerão. Dito isso, um brinde ao agora, ao já. “Tô certo ou tô errado ?”. Vamos que vamos.
Aguinaldo, creio que as novelas futuramente serão como as séries da Netflix. Adorei o seu texto. Ele nos deixou á pensar sobre as novelas do futuro